Doaria os seus órgãos?
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Doaria os seus órgãos?
Doaria os seus órgãos?
Mais depressa “precisamos de um transplante do que de doar um órgão”
Já alguma vez discutiu sobre a doação de órgãos com a sua família? Sabe que leis, em Portugal, regulam o transplante? Muita gente dirá que não, até porque é um daqueles assuntos que só se abordam quando nos atinge fisicamente ou aos nossos familiares e amigos. De facto, poucos também sabem que o simples facto de se desmistificar algumas ideias em torno deste tema pode salvar vidas. Numa reunião organizada pela Comissão Europeia (CE) sobre doação de órgãos e transplantação, que se realizou esta semana em Bruxelas, conheci Emily Thackray. É difícil, se não impossível, descortinar que uma pessoa com apenas 27 anos de idade e tão sorridente tenha estado às portas da morte sem poder fazer nada senão esperar pela “prenda da vida”, como a própria descreveu.
Emily nasceu em Inglaterra com fibrose cística, uma doença hereditária que afecta o trato digestivo e os pulmões. Cresceu habituada à rotina diária de inaladores, antibióticos, nebulizadores e fisioterapia. “Passava 50 por cento do meu tempo no hospital”, lembra.
Apesar de grandes quantidades de tratamento, teve uma educação ‘normal’ e foi capaz de fazer tudo o que faria qualquer outra criança. No entanto, os seus pulmões pioraram à medida que foi ficando mais velha. Em Março de 2005, entrou para a lista de espera por um transplante duplo de pulmões e foi informada de que sem ele provavelmente teria apenas um ano de vida.
Finalmente em 2007, depois de 22 meses de espera, recebeu o transplante.
Hoje é casada e trabalha na angariação de fundos para investigação. Criou a associação de caridade ‘Life Life Then Give Life’ ( http://www.lltgl.org.uk/page.cfm/NewSection=Yes/GoSection=0 ) e é orientada pelo desejo de ajudar outras pessoas.
Quando lhe pergunto de forma se pode sensibilizar as pessoas para uma questão que não as afecta pessoalmente, ela responde: “A doação de órgãos afecta-nos a todos porque é mais provável que venhamos a precisar de um transplante do que de doar um órgão”.
Decidir por si
Amanhã comemora-se o Dia Europeu para a Doação de Órgãos e Transplantação (EODD - http://www.edqm.eu/en/European-Day-for-Organ-Donation-and-Transplantation-1223.html ). A ideia por trás desta data é lembrar que cada pessoa pode decidir sobre a doação e dar a conhecer os seus desejos à sua família. Isto é importante porque a legislação portuguesa assenta no conceito de doação presumida. Ou seja, somos todos potenciais dadores a partir do momento em que nascemos.
De acordo com um estudo realizado na União Europeia (UE) (Eurobarómetro 72.3 - http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_333a_fact_pt_en.pdf), apesar de 74 por cento dos portugueses nunca ter discutido a doação de órgãos com a família, mais de metade afirma que doaria um dos seus órgãos assim que falecesse.
O terço dos portugueses que não está disposto a doar um dos seus próprios órgãos ou de um familiar próximo falecido não conseguem dar uma razão para sua oposição. De resto, 28 por cento cita desconfiança do sistema como uma barreira para doação. E menos de um em cada dez não o faria por razões religiosas.
Apesar da maioria dos cidadãos europeus apoiar a dádiva, como é o caso dos portugueses, a necessidade de transplantes está a aumentar em todo o mundo. Na EU 56 mil pacientes estão à espera de um transplante. Todos os dias, em média, morrem 12 pessoas enquanto aguardam.
O relatório do Eurobarómetro mostra que a discussão sobre este tópico com a família é positivamente correlacionada com suporte para doação de órgãos, bem como o nível de educação das pessoas. Curiosamente, a dificuldade financeira parece ser uma barreira pois aqueles que têm dificuldade em pagar as suas contas são menos propensos a falar sobre este assunto ou dar o seu consentimento para a doação de seus próprios órgãos ou de um falecido membro próximo da família.
O que diz a lei portuguesa
De onde provêm os órgãos doados?
Os tecidos ou órgãos podem provir de uma pessoa viva ou então de alguém que acabou de morrer. É preferível contar com tecidos e órgãos de um dador vivo, porque as possibilidades de que sejam transplantados com sucesso são maiores.
Quem pode doar órgãos em vida?
A nova lei permite que qualquer pessoa, como cônjuges ou amigos, seja dador de órgãos em vida, independentemente de haver relação de consanguinidade.
O que devo fazer caso não deseje doar os meus órgãos?
Deve inscrever-se no Registo Nacional de Não Dadores, em qualquer centro de saúde, preenchendo o impresso próprio e entregando-o no respectivo centro de saúde.
Como funciona a lista de espera?
A escolha dos doentes em lista de espera é feita segundo critérios biológicos de grupagem ABO e tipagem HLA-DR e cross-match. São considerados critérios de prioridade, como seja o grau de urgência, a idade e outros. Em princípio, a distribuição é regional. Nos casos de urgência, a alocação é feita a nível nacional. Quando não houver para qualquer dos órgãos colhidos um receptor compatível em Portugal, os órgãos são oferecidos aos congéneres europeus que podem ter oportunidade de transplantá-los.
(Fonte: Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação - http://www.asst.min-saude.pt/Paginas/asst.aspx)
Susana Lage, in Ciência Hoje - http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=51525&op=all
Mais depressa “precisamos de um transplante do que de doar um órgão”
Já alguma vez discutiu sobre a doação de órgãos com a sua família? Sabe que leis, em Portugal, regulam o transplante? Muita gente dirá que não, até porque é um daqueles assuntos que só se abordam quando nos atinge fisicamente ou aos nossos familiares e amigos. De facto, poucos também sabem que o simples facto de se desmistificar algumas ideias em torno deste tema pode salvar vidas. Numa reunião organizada pela Comissão Europeia (CE) sobre doação de órgãos e transplantação, que se realizou esta semana em Bruxelas, conheci Emily Thackray. É difícil, se não impossível, descortinar que uma pessoa com apenas 27 anos de idade e tão sorridente tenha estado às portas da morte sem poder fazer nada senão esperar pela “prenda da vida”, como a própria descreveu.
Emily nasceu em Inglaterra com fibrose cística, uma doença hereditária que afecta o trato digestivo e os pulmões. Cresceu habituada à rotina diária de inaladores, antibióticos, nebulizadores e fisioterapia. “Passava 50 por cento do meu tempo no hospital”, lembra.
Apesar de grandes quantidades de tratamento, teve uma educação ‘normal’ e foi capaz de fazer tudo o que faria qualquer outra criança. No entanto, os seus pulmões pioraram à medida que foi ficando mais velha. Em Março de 2005, entrou para a lista de espera por um transplante duplo de pulmões e foi informada de que sem ele provavelmente teria apenas um ano de vida.
Finalmente em 2007, depois de 22 meses de espera, recebeu o transplante.
Hoje é casada e trabalha na angariação de fundos para investigação. Criou a associação de caridade ‘Life Life Then Give Life’ ( http://www.lltgl.org.uk/page.cfm/NewSection=Yes/GoSection=0 ) e é orientada pelo desejo de ajudar outras pessoas.
Quando lhe pergunto de forma se pode sensibilizar as pessoas para uma questão que não as afecta pessoalmente, ela responde: “A doação de órgãos afecta-nos a todos porque é mais provável que venhamos a precisar de um transplante do que de doar um órgão”.
Decidir por si
Amanhã comemora-se o Dia Europeu para a Doação de Órgãos e Transplantação (EODD - http://www.edqm.eu/en/European-Day-for-Organ-Donation-and-Transplantation-1223.html ). A ideia por trás desta data é lembrar que cada pessoa pode decidir sobre a doação e dar a conhecer os seus desejos à sua família. Isto é importante porque a legislação portuguesa assenta no conceito de doação presumida. Ou seja, somos todos potenciais dadores a partir do momento em que nascemos.
De acordo com um estudo realizado na União Europeia (UE) (Eurobarómetro 72.3 - http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_333a_fact_pt_en.pdf), apesar de 74 por cento dos portugueses nunca ter discutido a doação de órgãos com a família, mais de metade afirma que doaria um dos seus órgãos assim que falecesse.
O terço dos portugueses que não está disposto a doar um dos seus próprios órgãos ou de um familiar próximo falecido não conseguem dar uma razão para sua oposição. De resto, 28 por cento cita desconfiança do sistema como uma barreira para doação. E menos de um em cada dez não o faria por razões religiosas.
Apesar da maioria dos cidadãos europeus apoiar a dádiva, como é o caso dos portugueses, a necessidade de transplantes está a aumentar em todo o mundo. Na EU 56 mil pacientes estão à espera de um transplante. Todos os dias, em média, morrem 12 pessoas enquanto aguardam.
O relatório do Eurobarómetro mostra que a discussão sobre este tópico com a família é positivamente correlacionada com suporte para doação de órgãos, bem como o nível de educação das pessoas. Curiosamente, a dificuldade financeira parece ser uma barreira pois aqueles que têm dificuldade em pagar as suas contas são menos propensos a falar sobre este assunto ou dar o seu consentimento para a doação de seus próprios órgãos ou de um falecido membro próximo da família.
O que diz a lei portuguesa
De onde provêm os órgãos doados?
Os tecidos ou órgãos podem provir de uma pessoa viva ou então de alguém que acabou de morrer. É preferível contar com tecidos e órgãos de um dador vivo, porque as possibilidades de que sejam transplantados com sucesso são maiores.
Quem pode doar órgãos em vida?
A nova lei permite que qualquer pessoa, como cônjuges ou amigos, seja dador de órgãos em vida, independentemente de haver relação de consanguinidade.
O que devo fazer caso não deseje doar os meus órgãos?
Deve inscrever-se no Registo Nacional de Não Dadores, em qualquer centro de saúde, preenchendo o impresso próprio e entregando-o no respectivo centro de saúde.
Como funciona a lista de espera?
A escolha dos doentes em lista de espera é feita segundo critérios biológicos de grupagem ABO e tipagem HLA-DR e cross-match. São considerados critérios de prioridade, como seja o grau de urgência, a idade e outros. Em princípio, a distribuição é regional. Nos casos de urgência, a alocação é feita a nível nacional. Quando não houver para qualquer dos órgãos colhidos um receptor compatível em Portugal, os órgãos são oferecidos aos congéneres europeus que podem ter oportunidade de transplantá-los.
(Fonte: Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação - http://www.asst.min-saude.pt/Paginas/asst.aspx)
Susana Lage, in Ciência Hoje - http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=51525&op=all
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